Nos últimos anos todas as formas de protesto foram banidas na Rússia. Lá não existe o direito às manifestações, não pode protestar. Duas pessoas segurando um cartaz já iam presas. Antes da guerra, a única forma possível de protestar eram os “piquetes unitários” quando somente uma pessoa podia estar com cartaz, se manifestando só. Com o início da invasão militar da Rússia na Ucrânia, até esta forma de protesto foi criminalizada pelo governo de Pútin. Pessoas com cartaz em branco, com cartazes com símbolos de paz, com cartazes com citações de poesia clássica – todas estão sendo presas. Como se manifestar contra a guerra neste contexto?
A seguir exemplos de micro arte antimilitarista anônima que surgiu nas ruas no meio da ditadura:
Aleksandra Skotchilénko, 31 anos, após o começo da invasão militar da Rússia na Ucrânia, realizou a ação artística em São Petersburgo substituindo num supermercado os indicadores de preços dos produtos pelos adesivos com os números de vitimas desta guerra. A ação artística da Sacha (Aleksandra) foi enquadrada pela lei recente como a desacreditação do exército da Rússia, ela foi detida e presa e está sendo ameaçada de ser condenada a 10 anos de reclusão. Este é o site em apoio à Sacha, nele também podem ser vistas suas obras mais recentes: http://savesasha.tilda.ws/?fbclid=IwAR0RjzaBWTcj8AfL4G86WtJzHTpWyB82Rycd1j0GtRDfoZ_bQFveDaekPPg
Elena Óssipova, 76 anos, é uma das artistas ativistas mais conhecidas e respeitadas de São Petersburgo. No post anterior colocamos algumas obras suas de protesto contra as guerras na Chechênia, na Síria e na Ucrânia. Neste filme embaixo é possível conhecer um pouco mais da história das duas artistas russas, uma jovem e uma idosa, unidas pela arte antimilitarista. Elas precisam de nosso apoio.
Em 24 de fevereiro de 2022 Rússia invadiu a Ucrânia iniciando uma guerra injusta. Como forma de apoio a todas as vitimas desta carnificina e a tod@s aquel@s que lutam contra a guerra, selecionamos alguns exemplos de arte ativista antimilitarista. Não à guerra!
Elena Óssipova, artista de São Petersburgo. Há anos participa das manifestações contra as guerras (na Chechênia, na Síria e, agora, na Ucrânia). Embaixo alguns exemplos de suas obras.OLYMPUS DIGITAL CAMERAA artista nos protestos. OLYMPUS DIGITAL CAMERAOLYMPUS DIGITAL CAMERAOLYMPUS DIGITAL CAMERAOLYMPUS DIGITAL CAMERAOLYMPUS DIGITAL CAMERAOLYMPUS DIGITAL CAMERAOLYMPUS DIGITAL CAMERAObras da Elena Óssipova em apoio a pres@s polític@s na Rússia, contra o governo criminoso de Pútin e contra a guerra na Ucrânia.
Na terça-feira, dia 28/09, às 19h, estaremos conversando com a Professora Camila Moraes do Curso de Museologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, ambos da UFG. Ela tem se dedicado na prática e na teoria a descolonizar os processos curatoriais museológicos. O último número dos Anais do Museu Paulista https://www.revistas.usp.br/anaismp/issue/view/11901 tem contribuições dela à discussão sobre a história da curadoria nos museus. Achamos que será uma oportunidade poder conversar diretamente com Camila Moraes e trocar ideias sobre o assunto e falarmos sobre nossas pesquisas e os interesses.
Projeto Thesaurus Karajá, do qual Professora Camila Moraes participa: https://acervo.museu.ufg.br/colecao-thesaurus-karaja/?view_mode=records&perpage=24&order=DESC&orderby=date&fetch_only_meta=74%2C84&paged=1&fetch_only=thumbnail%2Ccreation_date (O projeto Thesaurus: diálogos interculturais e museologia compartilhada é um projeto de pesquisa financiado pela Universidade Federal de Goiás e CNPq (2019-2021) com a coordenação do Prof. Manuel Lima Filho. Trata-se de uma proposta inédita de elaborar um Thesaurus da cultura material Iny/Karajá em parceria com representantes da comunidade, a fim de avançar na experiência do encontro etnográfico para desconstruir assimetrias na produção de conhecimento intercultural com relação aos estudos de coleções e processo museológicos relacionados a grupos indígenas. O projeto tem como base de documentação digital o software livre – plataforma Tainacan da UFG-IBRAM, com apoio da Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) por meio do Laboratório de Alto Desempenho, além do Cercomp/UFG. A base de dados que constitui o referido projeto está inserida na Coleção Digital Etnográfica do Museu Antropológico. A primeira coleção do projeto é a coleção William Lipkind (1938/39) do Museu Nacional da UFRJ.
Apresentações das pesquisas em história da arte feminista e decolonial que foram concluídas pelas integrantes do grupo no período do último ano:
Giovanna Dantas “Identidade nacional e o direito à memória: uma análise sobre a 21ª bienal de arte contemporânea sesc_videobrasil”
Laíse Frasão “Uma viagem pela América Latina: escultoras no século XX”
Pâmela Alves “O trabalho coletivo e a autoria nas sociedades contra o estado: reflexões sobre as legendas das obras de arte em acervos museológicos e em exposições no DF”
Samara Correia “A formação da cultura imagética dos brasileiros por meio dos livros didáticos distribuídos nas escolas públicas”
Marcelo da Silva Santiago “Milton Ribeiro: uma abordagem decolonial”
Jebson Vicente da Silva e Vitória Morgado Arantes “Representações problemáticas de pessoas negras nas artes visuais brasileiras a partir da obra ” A Negra” de Tarsila do Amaral”.
2. Informes
3. Organização para a comunicação e atividades no contexto da pandemia
4. Temas para o próximo encontro.
Até sábado! Saúde a vocês e suas pessoas próximas e queridas
Marta Mencarini. Âncoras também projetam sombras. (2019). Acrílica, 54 x 65 cm. @marta.mencarini.art
As professoras Bárbara Castro e Mariana Chaguri expõem como a pandemia do novo coronavírus incide sobre o trabalho do cuidado e o trabalho intelectual. A publicação original pode ser consultada na página: http://dados.iesp.uerj.br/pandemia-cientifica-feminista/
Um tempo só para si: gênero, pandemia e uma política científica feminista
Bárbara Castro (Unicamp) e Mariana Chaguri (Unicamp)
Ao longo das últimas semanas, diferentes equipes editoriais de publicações científicas têm noticiado a queda acentuada na quantidade de submissões deartigos assinados por mulheres (seja em autoria individual, ou coletiva) após a implementação de medidas de isolamento social em diversas partes do mundo*. O extraordinário da pandemia do novo coronavírus nos coloca diante do ordinário das assimetrias das relações de gênero tanto na rotina de trabalho nas universidades, quanto na dinâmica da produção do conhecimento científico. Se cotidianamente, mulheres na ciência lidam com ambientes mais ou menos hostis no que se refere ao assédio moral ou sexual, além de enfrentarem uma sobrecarga de trabalho administrativo em posições menos prestigiosas da burocracia universitária, por exemplo, as ações para o enfrentamento da disseminação da Covid-19 incidiram exatamente na ambiguidade da posição social de mulheres: entre a casa e a universidade; entre o trabalho de cuidado e o trabalho intelectual.
Quando a própria casa ganha ainda mais centralidade na trabalho acadêmico de mulheres, discussões sobre desigualdades de gênero frequentemente passam a evocar imagens de situações nas quais as atividades da vida doméstica se confundem com as demandas e exigências do trabalho como docentes e pesquisadoras. Crianças, companheiros ou outros membros da família produzem constantes interrupções nas rotinas profissionais de mulheres, tornando tarefa impossível a concentração duradoura que é exigida para a leitura e análise de textos, preparação de aulas, levantamento e tratamento de dados, redação e correção de artigos científicos, entre tantas outras tarefas.
Se antes, em alguns momentos do dia, a casa poderia ser o refúgio das acadêmicas para que trabalhassem tranquilas – algo que o cotidiano dentro do espaço físico da universidade muitas vezes não possibilita -, ela agora aparece como um espaço perturbador ao desenvolvimento e progressão da carreira.
A sobrecarga de trabalho para as mulheres que são mães é evidente e deve ser reconhecida pela comunidade científica – incluindo as agências de fomento -, o que, no entanto, não diminui a importância de observar que as associações diretas entre gênero e maternidade acabam por reforçar uma leitura naturalista sobre as desigualdades de gênero na ciência. Em carta dirigida à revista Science, colegas correta e corajosamente apontaram para a penalização adicional que as mães cientistas estão vivenciando neste momento. No entanto, gostaríamos de pontuar que argumentos que fazem equivaler cientistas homens a pares mulheres sem filhos acabam por invisibilizar algumas das inovações teóricas e normativas mais potentes do campo de estudos feministas e de gênero: as distribuições desiguais de poder entre homens e mulheres presentes em nossa sociedade não derivam da natureza biológica do homem ou da mulher, ao contrário, são socialmente construídas, o que nos permite pensar na subversão e superação dessas relações de poder.
Associar a desigualdade de gênero unicamente à maternidade, tem como efeito social, político e prático, a redução da multiplicidade de relações de poder que constituem a vida social das mulheres, limitando o alcance de reivindicação pela igualdade de gênero a somente uma dessas facetas. Em tempos de isolamento social, observamos que ajustes são negociados com as pessoas que se convive em casa: dias e horários são fixados para cada tarefa doméstica, atividades em família, atenção à aprendizagem de filhos em idade escolar ou tempos de silêncio absoluto[1]. A organização racional dos usos dos espaços e tempos da casa se tornou um imperativo para uma quarentena bem-sucedida, adicionando mais um trabalho às mulheres, que ao negociarem constantemente regras de administração do espaço doméstico, se percebem exaustas.
A sociologia das feministas materialistas francesas ajuda a compreender o que se passa: separação e hierarquização das tarefas entre homens e mulheres, concentração das responsabilidades domésticas e do cuidado sobre elas, acúmulo dessas atividades com as do trabalho remunerado, o que Daniele Kergoat e Helena Hirata (2007) definem como divisão sexual do trabalho. Para além disso, é produtivo pensarmos no debate sobre os tempos sociais. Nos anos 1970, o movimento feminista francês denunciava a “dupla jornada” das mulheres trabalhadoras, que somavam o trabalho produtivo, remunerado, ao reprodutivo, não remunerado. Neste momento, já era comum ouvir a defesa do trabalho em tempo parcial ou em regime de horários flexível como forma de conciliar as duas atividades e garantir a maior participação das mulheres no mercado de trabalho[2]. Mas seria suficiente assegurar formas de maior participação das mulheres no mercado de trabalho para combater as desigualdades de gênero?
Em meados dos anos 1980, Monique Haicault cunhou a ideia de “carga mental” para descrever o constante cansaço sentido pelas mulheres que se inseriam no mundo do trabalho. Haicault teve larga experiência de pesquisa com mulheres que trabalhavam a domicílio na indústria têxtil, sobrepondo espaços e tempos de trabalho. Mas, foi quando ela deslocou seu estudo para outro contexto, o de mulheres trabalhando em fábricas, fora de casa, que ela pôde perceber como a distinção de espaços sociais era simplesmente de ordem simbólica. Quando estão nas fábricas, as mulheres planejam a vida doméstica, pensam sobre as compras da semana e do mês, as contas a pagar e as tarefas que têm para cumprir. A casa as acompanha na fábrica. A carga mental não está, portanto, na justaposição ou somatória de atividades, mas na sua sincronicidade, na sua simultaneidade.
“A carga mental é feita, portanto, de ajustes perpétuos, da viscosidade do tempo que raramente é ritmado e muito mais frequentemente imanência, onde se perde o corpo e a cabeça para calcular o incalculável, para recuperar o atraso do tempo com o tempo, para tentar gerenciar com o tempo, o tempo perdido. A carga mental está cheia desses pequenos censores que dizem de maneira simples e tão frequente: ‘Não tenho tempo’ (Haicault, 1984, p. 275, tradução livre)”
Décadas antes, em palestra intitulada “Profissões para mulheres” realizada em 1931 na London andNational Society for Women’s Service, Virginia Woolf observava que independentemente de suas respectivas profissões, mulheres precisariam matar o “anjo da casa”, uma espécie de faceta da socialização feminina “[…] imensamente compreensiva. […] imensamente encantadora. […] absolutamente altruísta. […]” (Woolf, [1931] 2019, p.47). Ela reivindicava que as mulheres precisavam de um espaço exclusivo para seu próprio trabalho. Adicionaremos que ter um espaço só para si é o que as permite ter um tempo só para si e, portanto, desenvolver suas habilidades, imaginar e criar – características chaves da inovação científica.
A realização de trabalhos que exigem alta concentração não combina com uma rotina de interrupções. Pesquisas em andamento [3] apontam para as percepções distintas de produtividade de homens e mulheres que atuam em home office: elas avaliam que rendem menos, por serem interrompidas o tempo todo por outras pessoas e responsabilidades; eles avaliam que rendem mais, pois trabalham concentrados e sem interrupção de outras pessoas e tarefas domésticas. A casa não é espaço apenas de relações privadas, é também produtora e reprodutora de normas, regras e valores sociais, bem como hierarquias, disputas e conflitos de gênero.
Lendo conjuntamente as contribuições intelectuais das feministas francesa e inglesa, podemos argumentar que a faceta à qual se refere Virgínia Woolf marca um conjunto de expectativas profissionais sobre as mulheres. No caso das universidades, atravessam também as expectativas institucionais sobre as habilidades e competências associadas ao gênero feminino: a professora empática; a colega de departamento disponível para cuidar da harmonia do ambiente de trabalho; a chefe cuja autoridade é disputada nos seus mínimos – e sutis – detalhes; a especialista em gênero que recebe e encaminha as denúncias de violência contra mulheres e assim por diante.
Os tempos de isolamento social tornaram permeáveis as nuances entre o público e o privado que desde o início de suas trajetórias como estudantes universitárias mulheres cientistas são obrigadas a aprender a negociar. Uma negociação de tempos e espaços sempre penosa e carregada por um sem número de inseguranças e frustrações as quais, num momento como este, são também reveladoras das dificuldades para se falar sobre os motores da produção da desigualdade baseada em gênero na ciência.
Gostaríamos, portanto, de deslocar o debate da unidade familiar, para a maneira como essas regras e normas de gênero que produzem o cuidado como atividade feminina levam à vivência da sobrecarga mental de mulheres cientistas, casadas ou solteiras, com ou sem filhos. Ao sermos socialmente produzidas para nos preocuparmos com pai e mãe, amigos e amigas, sobrinhos e sobrinhas, também nos dedicamos a pensar em regras e normas de quarentena acadêmicas que sejam sensíveis à heterogeneidade de situações de nossos/as colegas e estudantes. Disputamos as regras universalistas da burocracia pontuando essas diferenças. E à carga mental do cuidado com a família e afins adiciona-se a do cuidado com o/a outro/a no espaço de trabalho.
Carreiras científicas são alicerçadas em noções de mérito e no reconhecimento pelos pares. Compreender a dinâmica da produção do conhecimento científico também como a história da produção da diferença baseada em gênero, implica na desestabilização de tais noções, o que não deixa de ser incômodo para nós mesmas. O universalismo da posição social dos homens acaba se desdobrando no universalismo também de suas ideias, de modo que falar sobre a desigualdade de gênero na produção do conhecimento parece nos colocar uma questão incômoda: ao reconhecer sua diferença em relação aos pares homens, estariam as mulheres admitindo sua incapacidade para jogar os jogos dentro das mesmas regras meritocráticas e, por extensão, estariam reconhecendo o particularismo ou a marginalidade do conhecimento que produzem?
De modo amplo, sustentamos que mulheres cientistas são cotidianamente – em tempos de pandemia ou não – empurradas para universos de produção do conhecimento academicamente confinados, enfrentando desconfianças ou condescendências quanto ao alcance e potencial de suas ideias e inovações. No extraordinário dos tempos de isolamento social, as dificuldades ordinárias se fazem ainda mais presentes e nos tornam incapazes de seguir a penosa negociação entre público e privado sobre a qual organizamos nossas carreiras. Como efeito, mulheres cientistas estão ainda mais confinadas em suas possibilidades de encontrar tempo e espaço para pesquisar, estudar e analisar um fenômeno cujos impactos em todas as áreas do conhecimento são notáveis.
Tais dificuldades, sugerimos, apenas podem ser superadas na medida em que noções de mérito, produtividade e trabalho institucional sejam rearticuladas em termos de uma política científica feminista, baseada no reconhecimento das injustiças de gênero, assim como daquelas baseadas em raça e sexualidade sobre as quais, ao fim e ao cabo, a produção científica do conhecimento e a rotina administrativa das universidades ao redor do mundo se assentam. Ou seja, as desigualdades de gênero na ciência não podem ser tratadas como uma excepcionalidade dos tempos extraordinários de enfrentamento à pandemia, nem como questão restrita à maternidade.
Por mais persistentes, competentes ou disciplinadas que as mulheres cientistas sejam, não é possível imaginar que as desigualdades de gênero que estruturam a produção do trabalho científico possam ser superadas por meio da força de vontade ou do comprometimento próprio. As soluções para o chamado gender gap na produção científica não podem ser individualizadas[4], sob a pena de naturalizar a diferença de gênero e, sobretudo, penalizar ainda mais mulheres sobrecarregadas com seus trabalhos de cuidado, a despeito de seus méritos acadêmicos.
Argumentamos sobre a necessidade de uma política científica feminista, baseada na promoção de um ambiente acadêmico e profissional de respeito à diferença que marca a atuação de mulheres cientistas, no estímulo às suas ideias e inovações, bem como na necessária e urgente dissociação entre trabalho feminino e trabalho de cuidado. Uma política científica feminista pretende, assim, que mulheres cientistas não sejam lembradas como as pioneiras que estiveram à frente de seu tempo, antes, tal política visa garantir que mulheres existam intelectualmente em seu tempo presente, participando ativamente das controvérsias públicas e dos imperativos de inovação intelectual que a sociedade nos demanda a cada momento da história. A elas, é preciso garantir um tempo só pra si.
* As autoras dedicam essa reflexão ao aprendizado cotidiano com Andréa Freitas, Andréia Galvão, Josianne Cerasoli, Nashieli Loera e Patrícia Avanci, nossa “bancada feminista”.
[ Sobre a imagem que ilustra esta publicação: “Tranquilidade”, desenho integrante da série Sobre Amor & outros peixes, de Eva Uviedo.]
Notas
[1] Sobre esse tema tratou Arlie R. Hochschild, em The time bind: when work becomes home and home becomes work, ao apontar para o que poderíamos traduzir como “taylorização da vida privada”.
[2] Essa ideia ainda persiste como políticas de equidade de gênero em empresas, como também apresenta Hochschild (1997) e seu caráter contraditório para as mulheres foi exposto por Bárbara Castro, em As armadilhas da flexibilidade.
[3] Pesquisa de Bárbara Castro, no âmbito do projeto “Cartografias do trabalho na sociedade contemporânea: impactos das políticas trabalhistas e sociais neoliberais nas dinâmicas de desigualdade de classe, gênero e raça”, desenvolvido no Centro de Sociologia Contemporânea do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, na Universidade Estadual de Campinas.
[4] Em que pese a preocupação com a visibilidade da produção acadêmica de mulheres, apontamos as cincos sugestões formuladas pelos colegas no post “Journal Submissions in Times of COVID-19: Is There A Gender Gap?” acabam tendo o efeito de converter desigualdades estruturais em problemas de gestão individual.
Referências
CASTRO, Bárbara. (2016), As armadilhas da flexibilidade: trabalho e gênero no setor de tecnologia da informação. São Paulo: Annablume.
HAICAULT, Monique. (1984), “La gestion ordinaire de la vie en deux . Sociologie du Travail, Elsevier Masson”, 26, Travail des femmes et famille (3), p.268-277.
HIRATA, Helena; KERGOAT, Danièle. (2007), “Novas configurações da divisão sexual do trabalho”. Cad. Pesqui., São Paulo , v. 37, n. 132, p. 595-609.
HOCHSCHILD, Arlie Russell. (1997), The Time Bind: when work becomes home and home becomes work. New York: Metropolitan Books.
WOOLF, Virginia. (2019), “Profissões para mulheres” In: As mulheres devem chorar…ou se unir contra a guerra. São Paulo: Autêntica.
No último dia 2 de novembro, participamos de uma roda de conversa com as artistas, mediadoras e monitoras da Exposição Matriz, no Museu Nacional da República, em Brasília. As conversas, envolvidas pela escuta atenciosa, foram muito significativas para entender e romper alguns dos modos de silenciamento que encontramos com frequência em nossas atividades profissionais e cotidianas.
Como nos encontramos na última semana da exposição, ouvimos muitos relatos das experiências sobre a produção artística coletiva e sobre a recepção dos trabalhos pelos diversos públicos que estiveram presentes na mostra desde o dia 8 de outubro.
A proposta da exposição, feita pela artista Clarice Gonçalves, reuniu outras dez artistas, por meio de chamada pública de um edital financiado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC/DF). A mostra é uma crítica ao trabalho materno, ou melhor, como a sociedade entende e exige das mulheres um determinado comportamento e uma função que seja aceita e condicionada aos estereótipos do corpo sagrado e dessexualizado, do trabalho doméstico confundido com amor incondicional, além de toda uma série de delicadezas que deturpam suas participações na vida pública, incluindo, é claro, as suas atividades como artistas.
Foram apresentados 40 trabalhos, 30 deles da idealizadora e também curadora Clarice Gonçalves e, os outros, das artistas e também mães, Adriane Oliveira, Aila Beatriz, Angélica Nunes, Bárbara Moreira, Camila Melo, Carolina de Souza, Débora Mazloum, Marta Mencarini, Raissa Miah, Tatiana Reis.
Foi necessário ouvir que somente com a instalação de um ateliê coletivo, no interior do próprio museu, e com trabalho das monitoras Juliana Garcia e Nadja Dulci, houve tempo possível para a produção artística e para o acolhimento das mulheres. A mediação de Luana Marques, Jeanine Cardoso, Lucas Benatos e Lais Menezes aproximou os públicos dos trabalhos das artistas e confrontou uma série de questões sobre o imaginário idealizado da mulher e também sobre o machismo estrutural existente na sociedade.
A proposta e a realização da exposição Matriz apresentam outras realidades possíveis, através de pensamentos e ações coletivas, de afirmações de existências, de potentes contatos e de desejos de mudanças.
Roda de conversa: Coletivos Matriz e Atrevidas. Fotografia: Tatiana ReisDurante a produção dos trabalhos. Fotografia: Tatiana ReisFotografia: Tatiana ReisFotografia: Tatiana ReisDetalhe da exposição. Fotografia: Tatiana ReisAs artistas. Fotografia: Tatiana Reis
“Existe um explícito parentesco entre a escravidão moderna, a predação colonial e as formas contemporâneas de apropriação e extração de recursos. Em cada uma dessas instâncias há uma negação constituitiva do fato de que nós humanos co-evoluímos com a biosfera, dependemos dela, somos definidos por e através dela, e devemos uns aos outros uma obrigação de responsabilidade e cuidado.
Uma diferença importante é
a escala tecnológica que levou à emergência do capitalismo
computacional dos nossos tempos. Não estamos mais na era da máquina, mas
na era do algoritmo. Essa escalada tecnológica, por sua vez, ameaça
tornar todos nós em artefatos – o que eu chamei em outro momento de
“tornar-se-o-negro-do-mundo” – e em tornar redundante uma grande parte
do poder muscular do qual o capitalismo dependeu por muito tempo. O que
se segue é que hoje, apesar de seu principal alvo seguir sendo o corpo
humano e as matérias da terra, a dominação e a exploração estão se
tornando cada vez mais abstratas e reticulares. Como repositório dos
nossos desejos e emoções, sonhos, medos e fantasias, nossa mente e nossa
vida psíquica se transformaram em matéria-prima sobre a qual o
capitalismo digital busca capturar e transformar em mercadoria.
Nos tempos de Rhodes, a exploração do trabalho negro andava de mãos dadas com uma forma virulenta de racismo. O capitalismo contemporâneo ainda depende desses subsídios raciais. Mas as tecnologias de racialização têm se tornado cada vez mais pérfidas e abrangentes. Na medida em que o mundo se transforma num grande empório de dados, as tecnologias de racialização serão cada vez mais geradas e instituídas através de dados, cálculos e computação. Em resumo, o racismo está se realocando ao mesmo tempo sob e sobre a superfície da pele. Ele se reproduz através de telas e espelhos de vários tipos. Tem se tornado ao mesmo tempo espectral e fractal…”
Roda de conversa sobre a história da arte decolonial e feminista na Concha Acústica do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. Começamos com a oficina de encadernação; discutimos a decolonialidade e o feminismo em artes; conversamos sobre as questões específicas, relacionadas a estes temas, da universidade e do Distrito Federal e do Entorno; distribuímos o material editado por artistas que compila as informações sobre a ausência de artistas mulheres e negrxs em principais manuais de história da arte; começamos a exibição de vídeo com a performance de Michelle Mattiuzzi “merci beaucoup, blanc! ” – e soaram os tambores, e caiu a primeira chuva do ano encerrando o período da seca
começando a oficina de encadernação materiais para a encadernação cadernos prontos)))costurando